BAGUNCINHA

Santiago Santos

Sobre o livro

Narrativas curtas, minicontos, ficções breves, ficções relâmpago: Baguncinha é um apanhado de 40 desses contos enxutos que Santiago Santos publicou ao longo dos anos no flashfiction.com.br.  Os temperos variam: uma cabeça que prevê os nomes dos mortos, um pirata que negocia seus últimos dias, um detetive sobrenatural resolvendo perrengues no interior mato-grossense, a árvore genealógica de um açougue, famílias assombradas pela saudade, um gerente de hotel sistemático e nada humano, um tubarão de rio de estimação, o mercado imobiliário espiritual e suas negociatas, futuros distópicos a rodo, fatias duma Cuiabá contemporânea… Costurando gêneros, formatos, vozes narrativas e ambientações diversas, Baguncinha abre o mapa dum microcosmo literário radioativo e percorre suas vielas.

 

Trecho

– Rógevaldo, leva essa Brahma lá fora.

– Claro, dona Deva.

Róge pega pelo pescoço o vidro embranquecido. Desvia das mesas do salão do bar e abre a porta de tela. Na varanda, o desconhecido empinando a cadeira nos pés traseiros, pernas cruzadas sobre a cerca de madeira, cigarro enfiado nos dedos do braço caído ao lado do corpo, camisa aberta e o pelo do peito pulando pro alto, calça manchada de óleo, ou graxa, ou barro, botas apontando pro céu molhado e pra goteirona que se atira duma telha lascada, formando um lago sonoro no chão de terra, terra ensopada até os carros mais adiante, reluzindo sob o poste, os olhinhos dum gato debaixo do carro mais próximo, o motor ainda quente.

– Aqui, senhor.

 

 Santiago Santos  é escritor, preparador de texto e tradutor. Publicou Algazarra (Patuá, 2018), coletânea de minicontos, Na eternidade sempre é domingo (2016), uma road trip inca, e Hei, hou, Borunga chegou, uma noveleta sobre piratas espaciais (Mafagafo, 2020). Vive em Cuiabá, onde toma tereré o dia todo.